Os novos <em>Pátios das Cantigas</em>
Nos primórdios dos anos quarenta, um produtor cinematográfico, por sinal ligado ao regime de então, propôs-se retratar, num filme, a vida dum pátio alfacinha, onde vivia a classe média mal definida, com todos os seus dramas e alegrias, e também com a sua solidariedade. Na estória, sendo narrada um pouco «revisteiramente», era natural, portanto, que muita coisa faltasse ou fosse desvirtuada. Todavia, na descrição que se fazia, não deixava, de haver, sub-repticiamente, uma discreta apologia do «chefe» que nos governava então. E dizemos sub-repticiamente porque este nos aparece como protector transfigurado num velho transporte público dos tempos do «Chora», que tinha igualmente o seu nome. Mas não estamos a analisar o filme em causa que, servido por um excelente naipe de actores, agradou ao público e, ainda hoje, antologicamente, é passado, pela nossa televisão, com bastante frequência. Também não se pode afirmar que houvesse laivos de fascismo, no «guião», ou que, pelo menos, este fosse acintosamente visível. Ora, o filme em questão, todos sabemos, chamava-se, num certo jeito folclórico, «O Pátio das Cantigas», procurando ser, na realidade, o Pátio do Evaristo, como muitos outros que existiram por esta querida Lisboa.
Toda a matéria nele contida, não deixaria de merecer um estudo sociológico, profundo e comparativo com ideais políticos que vimos defendendo. Neste momento, apenas, e «a talhe de foice» – que nos releve o autor desta secção, neste jornal – apenas fazemos uma observação que sendo aparentemente simples pode ter um conteúdo e um envolvimento de certa amplitude.
Talvez seja chique
É que surgem, agora, como cogumelos, os chamados «Condomínios Fechados». E já vimos, em extensa faixa publicitária, ser um deles – pelo menos – designado por «pátio». Não sabemos se a ideia peregrina deste capitalismo selvagem, dito liberal, para que estamos a ser arrastados, pretende frutificar. Talvez seja «chique», talvez pegue. «Vivo no Pátio X. Chiquérrimo! Hás-de vir à minha piscina, mas avisa-me, para eu dar ordens ao «segurança». Pois é. Vão-se demolindo construções antigas, que podiam muito bem ser reconstruídas, e fecham-se espaços públicos que se tornam privativos para alguns.
Para alguns. Para os que têm muito dinheiro e para os que não o tendo, recorrem ao crédito. Para isso lá estão os bancos, cujos juros sobem vertiginosamente. E depois, quando não houver dinheiro para pagar esses juros, telefona-se a uma dessas sociedades ou empresas de crédito instantâneo – como os pudins –, ficando o assunto resolvido, para contrair outros encargos. E assim sucessivamente. Crédito mal parado, que é isso? Na verdade, os residentes do «Pátio do Evaristo» nunca ouviram falar em tal.
Mas, também, os capitalistas e os governos parece desconhecerem o artigo 65.º da Constituição, como muitos outros, aliás, que não vêm agora ao caso.
Para quê habitações económicas, para a classe média, com uma renda de acordo com os proventos de cada um – que cada vez são menores e mais instáveis?
Pátios das Cantigas, sem cantigas, esses tais condomínios fechados. Fechados em si mesmos, com «seguranças» e piscinas privadas, em que os seus ocupantes mal se vêem e conhecem. Bom negócio para quem os constrói e negoceia, mas a ruína para muitos que os habitam.
Toda a matéria nele contida, não deixaria de merecer um estudo sociológico, profundo e comparativo com ideais políticos que vimos defendendo. Neste momento, apenas, e «a talhe de foice» – que nos releve o autor desta secção, neste jornal – apenas fazemos uma observação que sendo aparentemente simples pode ter um conteúdo e um envolvimento de certa amplitude.
Talvez seja chique
É que surgem, agora, como cogumelos, os chamados «Condomínios Fechados». E já vimos, em extensa faixa publicitária, ser um deles – pelo menos – designado por «pátio». Não sabemos se a ideia peregrina deste capitalismo selvagem, dito liberal, para que estamos a ser arrastados, pretende frutificar. Talvez seja «chique», talvez pegue. «Vivo no Pátio X. Chiquérrimo! Hás-de vir à minha piscina, mas avisa-me, para eu dar ordens ao «segurança». Pois é. Vão-se demolindo construções antigas, que podiam muito bem ser reconstruídas, e fecham-se espaços públicos que se tornam privativos para alguns.
Para alguns. Para os que têm muito dinheiro e para os que não o tendo, recorrem ao crédito. Para isso lá estão os bancos, cujos juros sobem vertiginosamente. E depois, quando não houver dinheiro para pagar esses juros, telefona-se a uma dessas sociedades ou empresas de crédito instantâneo – como os pudins –, ficando o assunto resolvido, para contrair outros encargos. E assim sucessivamente. Crédito mal parado, que é isso? Na verdade, os residentes do «Pátio do Evaristo» nunca ouviram falar em tal.
Mas, também, os capitalistas e os governos parece desconhecerem o artigo 65.º da Constituição, como muitos outros, aliás, que não vêm agora ao caso.
Para quê habitações económicas, para a classe média, com uma renda de acordo com os proventos de cada um – que cada vez são menores e mais instáveis?
Pátios das Cantigas, sem cantigas, esses tais condomínios fechados. Fechados em si mesmos, com «seguranças» e piscinas privadas, em que os seus ocupantes mal se vêem e conhecem. Bom negócio para quem os constrói e negoceia, mas a ruína para muitos que os habitam.